Tabelas-texto: discretas, mas eficientes

 

Narrar por escrito consome espaço: papel, píxels, megabytes. Tanto mais árvores têm que ser abatidas, mais água deve fluir nas hidrelétricas e mais memória precisa haver em computadores quanto mais linhas de texto houver. Isso também inclui linhas em branco. Em termos de espaço e energia, em branco nada passa.

Quando temos muitos dados a apresentar, dispô-los em forma de tabela é mais eficiente que narrá-los sequencialmente, um a um. Enquanto o texto convida a ouvir (pacientemente), a tabela convida a ver (agilmente).

Examinemos, por exemplo, este parágrafo descritivo:

 

Para as observações de campo e coleta de amostras, foram selecionadas três localidades: A1, de 200 m de raio, tendo por centro as coordenadas 21°17′11″S e 50°12′32″W; A2, de 180 m de raio, com centro localizado em 21°18′13″S e 50°15′21″W; e A3, de 220 m de raio, com centro em 21°16′42″S e 50°11′25″W.

 

A narrativa é clara e inequívoca, mas dispor tais dados em tabela facilitará a visualização.

O formato tabular, no entanto, exigirá mais linhas que um simples parágrafo de texto: a tabela terá não só três linhas de dados (uma para cada localidade), mas também outra de cabeçalho e uma mais (quando não duas) de título. Requer-se também uma linha em branco acima e outra abaixo da tabela, para melhor contrastá-la com o texto vizinho. Ocupar mais linhas significa despender mais centímetros de papel (ou mais espaço de tela).

Há, porém, uma solução mais concisa: a tabela-texto. É o que se obtém se dispusermos os dados do seguinte modo:

 

Para as observações de campo e coleta de amostras, foram selecionadas três localidades (com respectivos raios e coordenadas centrais):

A1          200 m          21°17′11″S; 50°12′32″W
A2          180 m          21°18′13″S; 50°15′21″W
A3          220 m          21°16′42″S; 50°11′25″W

 

Leitura clara e confortável, com escrita econômica.

As tabelas-texto são particularmente úteis quando há poucos dados a apresentar. (Digamos, seis ou oito.) Elas já foram amplamente utilizadas, mas em certo momento do último século caíram em relativo esquecimento. Estão, porém, sendo ressuscitadas em publicações de diferentes áreas, por sua praticidade e economia. São também oportunamente lembradas, e recomendadas, pela Associação Europeia de Editores de Ciência (EASE), que oferece proveitosas orientações para seu uso:

  1. Quanto maior a quantidade de dados em uma tabela-texto, menor poder de concisão ela terá. (Se os dados forem muitos, pode convir utilizar uma tabela tradicional.)
  2. Podem-se aplicar destaques ocasionais (como itálico, negrito, sublinhado ou variações no tamanho da fonte), mas com comedimento.
  3. As linhas podem ser ordenadas do modo mais útil para o leitor (ordem alfabética ou de valores numéricos, com o mais importante acima).
  4. O espaço entre as colunas não deve ser muito largo nem muito estreito.
  5. A frase que precede a tabela-texto já funciona como título, informando as grandezas (e suas unidades de medida entre parênteses, se necessário). Tipicamente, essa frase termina em dois-pontos.

A EASE cita como fonte o renomado estudioso de design gráfico Edward R. Tufte, que destaca a praticidade das tabelas-texto em um de seus primorosos manuais sobre comunicação de informações quantitativas: The visual display of quantitative information. Um livro utilíssimo e precioso, que ensina elegância gráfica e bom senso informativo.

 

Referências: